Ética é condição de possibilidade. A humanidade não seria possível sem ética.
As virtudes compõem a ética. Virtude quer dizer medida. A justiça é a mais importante de todas as virtudes.
Ninguém precisa estudar um tratado de filosofia para ser justo. A justiça participa do nosso corpo. Não faz nada bem comer além da conta e não faz nada bem ingerir álcool em demasia.
É muito provável que Aristóteles tenha se inspirado na natureza para pensar a justiça.
Não há dúvida de que o ambiente entraria em colapso se alterado de forma brusca.
Desse modo, não existe a menor possibilidade de existirmos fora da justiça.
No entanto, justiça pode não ter nada a ver com a lei. A justiça é da nossa natureza. A lei é uma invenção nossa e que pode ser manipulada.
A lei é justa? Nem sempre. Pode ser legal e injusto. Espera-se que um juiz seja justo ou legal? Creio que justo. Pode até fazer sentido alguém justificar a sua desonestidade usando a suposta desonestidade de alguém que o precedeu no mesmo cargo. Seria legal? Acredito que sim. É justo? Não.
Desse modo, pode acontecer da lei tripudiar da nossa cara.
É o nosso corpo que grita quando agimos fora da medida.
Está escrito em nossa biologia a necessidade de um equilíbrio – ainda que mínimo.
Não pense que estamos avessos aos absurdos a que estamos assistindo nesse país. Um certo mal-estar já pode ser constatado – mesmo naqueles que até pouco tempo aplaudiam esses canalhas.
Nenhuma injustiça sobreviveu por muito tempo.
A justiça não é uma prerrogativa apenas da filosofia. A justiça é uma prerrogativa da nossa natureza.
Uma hora o corpo pulsa e reage. Uma hora a coisa explode. A questão é o que poderá acontecer depois disso.
Evaristo Magalhães – Psicanalista