As pessoas acham que enlouqueceríamos se vivêssemos sem um sentido. Não é verdade. O sentido com lógica é apenas diferente sentido sem lógica.
Nem todo sentido ilógico é sem sentido. O que não é possível é a ausência total de sentido. Nesse momento, o horror tomaria conta.
Portanto, nem sempre o que não tem sentido quer dizer surto ou loucura. A lógica, quase sempre, está presa a um determinado contexto. A lógica, portanto, é cultural. A cultura é uma tentativa de transposição – das invenções e comportamentos – do domínio prático para o domínio do abstrato.
Ora, sabemos que as palavras não são as coisas. Quanto mais nomeamos, mais distanciamos do que dizemos. Portanto, o mundo é muito mais do que se passa conosco.
Uma coisa é ver, outra é buscar o sentido de ver. Uma coisa é ouvir, outra é questionar o que se escuta. Tenho preferido ver, ouvir, tocar e saborear, no lugar de querer pensar no que cada um desses sentidos significa ou não.
É seguro que podemos viver uma centena de milhares de coisas, sem qualquer movimento do pensamento e sem que, necessariamente, precisemos de um psiquiatra. Podemos e devemos, por exemplo, saborear um bom prato, apenas pelo prazer de comer. Não faz o menor sentido deitar e passar a noite em claro pensando na morte da bezerra. O som nasceu primeiro que a partitura. É uma coisa completamente estapafúrdia procurarmos pela fórmula da água enquanto tomamos banho de mar. Pensar é só mais uma habilidade que temos. Ocorre, que pensamos mais que vivemos. Precisamos inverter essa lógica: viver mais que pensar. É seguro que estaremos muito mais dentro que fora de tudo.
Evaristo Magalhães – Psicanalista