Sou completo com o que tenho. Agora, por exemplo, estou só em meu quarto e com o que tem dentro dele.
Tenho os barulhos da rua, as pausas, os silêncios e os cheiros. Posso ouvir música, ler meus livros e escrever minhas crônicas.
Tenho meu corpo, meus sentimentos e minhas sensações. Posso fazer um café, comer uma fruta ou um pedaço de chocolate. Posso escrever ou dormir.
Isto é tudo o que tenho para a minha felicidade de agora. Não posso maldizer tudo isso achando que algo me falta para a minha alegria.
Não vale trocar o real por um ideal. Não vale desdizer o que se tem em detrimento do que não se tem. Não devo sair porque estou infeliz: isso não funciona. Possivelmente, continuarei infeliz no lugar onde – supostamente – eu pensava que ficaria feliz.
Meu lugar é onde estou. Meu tempo é agora. Não devo hierarquizar. Não devo comparar. Comparar vicia porque comparando acabo não ficando inteiro em lugar nenhum.
Viver é uma sucessão de experiências e vamos usufruindo do que cada uma pode nos oferecer.
Pensamos para criticar. Pensamos para julgar. Analisamos porque estamos insatisfeitos. Dizem que o pensamento abstrai, eleva e amplia. Não ê verdade. O pensamento é infernal porque não existe o pensamento do pensamento.
Não devo deixar onde estou por nada. Devo deixar a vida fluir. Devo deixar a vida me surpreender com toda a felicidade que ela pode me dar.
Não estou sobre a vida: estou sob a vida. Sobre a vida nada sei. Sob a vida, há um universo infinito de coisas. Só cabe a mim fazer muito bem feito com tudo o que posso dela.
Evaristo Magalhães – Psicanalista