Temos questões em doar. Temos questões em soltar sem saber o que será feito disso – que é nosso – e que vai para nunca mais voltar.
É certo que iremos para onde tudo vai.
Retemos porque tememos perder.
Defecar seria experimentar perder algo de si.
Para o capitalismo, quanto mais acumulamos mais inteiros seremos.
Sabemos que somos finitos e temos pânico disso. Por isso, rezamos a cartilha de uma casa entupida de coisas úteis apenas para a nossa angústia existencial.
Para Freud, todo fanatismo seria uma espécie de merda velha guardada nos recônditos do intestino da humanidade.
Ninguém quer perder. Ninguém quer ficar no vazio.
O consumo incentiva esse medo vendendo falsas soluções para tal.
Com o pânico generalizado do esvaziamento, todo mundo acha que estando cheio o risco de se perder é menor.
Quem não defeca crê que o pesado é mais seguro.
A medicina não consegue explicar certos casos de constipação intestinal.
Conheço muitos narcisistas com esse tipo de comorbidade.
Evaristo Magalhães – Psicanalista