Dizem que somos faltosos. Será? Isso não seria uma invenção do consumismo para vender o que – supostamente – preencheria essa nossa falta?
Como é possível viver do que nada supre? Não nos tornaríamos escravos de fixar um desejo que nada fixa.
De nada adianta alguém desejar não morrer. De nada adianta alguém desejar não envelhecer. Vamos envelhecer e vamos morrer.
De que adianta alguém realizar um desejo que vira outro desejo assim que terminar de ser realizado?
Ninguém deveria viver para realizar o que lhe falta.
Estamos no mundo e não fora do mundo. Deveríamos nos colocar como completos com o que o mundo tem a nos oferecer.
Sofremos porque vivemos de brigar com o mundo.
Ocorre que o mundo é bem maior que a nossa imaginação. Seremos vencidos por ele. O melhor não seria nos aliarmos a ele?
O melhor seria tomar a velhice como parte da vida, tomar a morte não como uma punição a ser redimida e tomar o final como resultado de uma história de muito regozijo.
Temos que ser inteiros enquanto estamos vivos. Ou seja, temos muito à nossa disposição. Podemos ver, cheirar, saborear, morder, tocar e gozar.
Não somos poder: somos potência. Precisamos ver, ouvir, respirar e deliciar de tudo – sem julgamento e sem culpa.
Tudo é inteiro quando é sentido como inteiro. Mente quem diz o contrário. Basta observar a grandeza da vida para começarmos a usufruir de tudo dela. Seguramente, apenas uma vida não será suficiente para tanto!
Evaristo Magalhães – Psicanalista