Não existe diferença entre amar e odiar quem partiu. Pensar em quem partiu é o mesmo que negar a perda. Raiva e saudade podem ser duas faces de uma mesma moeda – bem como amor, ódio, rancor, revolta ou vingança.
Não importa se o outro está sabendo. Estamos sempre arranjando um jeito de trazê-lo de volta.
Pensar no outro é só um outro jeito de continuar vinculado a ele. O problema não foi a partida. A questão é que não sabemos aceitar a perda.
Pensamos para nos punir da nossa incompetência em lidar com a ausência. No fundo, só sabemos sofrer com as perdas. Camuflamos nossa dor trazendo lembranças bonitas, narrando histórias engraçadas ou formulando argumentos para justificar, para nós mesmos, que quem perdeu foi o outro. Tudo isso é muito bonito, no entanto, é mais uma meia culpa para recalcar o quanto estamos desesperados pela partida desse alguém muito querido. Quem pensa, gosta. Quem gosta, é porque não quer se desligar de quem já virou a página. Quem odeia, também. Não aceitamos o que não tem solução. Detestamos o vácuo. A questão não são as despedidas, e sim, em que medida esses acontecimentos nos atualizam situações que estamos condenados a viver e não suportamos – sequer – pensar na hipótese disso vir a se tornar real. Somos egoístas quando da ausência e quando da presença do outro. Tenho dúvidas se realmente amamos as pessoas. Acho que amamos mais a nós mesmos que quem dizemos amar. Amamos o outro apenas na medida em que ele conforta nossos desesperos – tanto que desesperamos quando ele decide não viver mais conosco.
Evaristo Magalhães – Psicanalista