Tudo que buscamos na vida é para a nossa felicidade. Por isso amamos, trabalhamos, festejamos.
O problema é que – quando estamos amando – esquecemos de tudo. Ninguém ama pensando em ser abandonado. Ninguém trabalha com a hipótese de perder o emprego. Viajamos já pensando no próximo passeio. Ninguém quer que a festa acabe.
É por querermos que tudo dê certo, que nada dá certo. O que é certo? Se o procurarmos, certamente, não o encontraremos. Há muitos modos de dizer e as palavras são infinitas.
Quando queremos que dê tudo certo é porque já sabemos que dará tudo errado. Queremos que tudo certo para evitar o que sabemos inevitável.
Amamos o certo. Odiamos o incerto. Amamos o claro. Detestamos o escuro. Criamos o bonito para camuflarmos o feio. Hierarquizamos tudo como se fosse possível eliminar o incerto, o escuro e o feio. Viramos guerreiros de uma felicidade impossível.
Inventamos a angústia para o duvidoso, o pânico para o ausência e o asco para o feio. Criamos um mundo de fantasmas para nós mesmos. Por isso bebemos além da conta, comemos compulsivamente e ficamos agressivos ou deprimidos.
Só viveremos – minimamente bem – quando reconhecermos a verdade do outro lado de tudo que mais amamos. Só teremos paz quando desistirmos de fazer a guerra e aprendermos a aceitar isso que nos é impossível negar.
Só saberemos amar quando não nos fizer a menor diferença se o outro resolver partir.
Evaristo Magalhães – Psicanalista