Temos emoções que não gostaríamos de viver. Temos pensamentos que gostaríamos que nunca passassem pela nossa mente. Vemos coisas estranhas. Escutamos barulhos esquisitos. Gostaríamos de nos manter distantes de tudo o que nos perturba. Muitos não suportam – e surtam. Outros até desistem desistem de viver. Uma saída, muito comum, é jogarmos nossos dilemas no corpo na forma de doença. Pode acontecer de preferirmos uma enxaqueca no lugar de um sentimento que não suportamos. Um obeso extremo pode preferir passar a vida toda comendo para anestesiar o que não suporta mentalmente. Uma pessoa pode passar o dia todo limpando a casa, buscando, com isto, se limpar de sentimentos tidos como vis. Conheci uma pessoa que passou a se cortar tentando conter a loucura por ter perdido um grande amor. Há quem não dorme para não perder o controle de si. Há quem se entope de medicamento quando tudo o que já fez não é suficiente para conter seus medos. Há os compradores compulsivos que necessitam da sensação de que nada lhes falta. Há quem fique o tempo todo tenso e ansioso como se estivesse para ser atacado a qualquer momento. Há quem prefere permanecer imóvel sobre uma cama dentro de um quarto escuro. Jogar no corpo na forma de doença, é revelador da nossa incapacidade de resolver nossas perturbações psiquicamente. Levamos para o corpo, quando esgotamos tudo do nosso psicológico. As perturbações não são as mesmas para todos. O drama é de cada um. Ninguém sente igual. Não deveríamos passar da mente para o corpo na forma de doença. Não deveríamos resolver o mau pelo mau. O psíquico não tem limite: o limite do psíquico é a capacidade do próprio psíquico de ir se reinventando pela vida.
Evaristo Magalhães – Psicanalista