Nunca fixe no outro que partiu. Não vai adiantar. Viver para quem partiu não trará a pessoa de volta. O sofrimento não tem esse poder.
No fundo, nosso problema não é o outro que se foi. Nosso drama é o vazio que o outro nos deixou. Precisamos aprender a lidar com isso.
Ocorre, que quase nunca atinamos para essa questão. Vemos o vaso e logo arranjamos flores para cobrir seu oco. Vemos a montanha sem nos preocuparmos com o que não enxergamos por detrás dela.
Quando temos, só sabemos ter. Não trabalhamos com a possibilidade de não ter. Só queremos saber da felicidade.
Ocorre, que ganhar é tão real quanto perder. Na verdade, começamos a perder quando começamos a usufruir do que ganhamos.
Nãos temos a vida e não há vitória que possa ser comemorada – por igual – o tempo todo.
Até tentamos esquecer o que nos incomoda. No entanto, outras forças, que não controlamos, se encarregam de nos lembrar que as coisas nunca serão como gostaríamos.
Portanto, não deveríamos odiar quem nos deixou. Ninguém é nosso.
Não é pelos outros que sofremos. Sofremos, porque só sabemos amar por inteiro.
Deveríamos amar o outro enquanto presença e enquanto ausência. Sofremos pela nossa prepotência de possessividade.
Infelizmente, não contamos com a solidão. E ela é sem compreensão. Tanto que ela virá – queiramos ou não – porque nos constitui.
Evaristo Magalhães – Psicanalista