Há o que nada podemos. Há o inevitável. A questão é o que fazer com isto. Para tanto, cantamos, viajamos e amamos. De que adianta tudo isso? Nada.
A vida boa não está em fazer uma coisa para se livrar de outra. Ninguém vive bem em fuga constante.
Não deveríamos fazer apenas para tamponar o intamponável. Julgamos aquilo como sendo insuportável para justificarmos nossa crença em uma felicidade que eliminasse – por completo – esse insuportável. É por insistirmos que acabamos sempre tristes.
A vida boa não é nada disso. O prazer de viver está em dar conta de olhar para esse insuportável sem condená-lo como tal.
Viver é ser capaz de tomar o que não nos agrada como sendo nosso – e da forma mais silenciosa possível. É ser capaz de ver sem se alegrar ou sofrer. É ser capaz de carregar sem pergunta pelo sentido. Não se trata de gostar ou não gostar. Trata-se de tomar como parte.
Tudo questionamos. Cremos que a alegria de viver pode ser conquistada de pergunta em pergunta até atingirmos a resposta definitiva. Doce ilusão!
A vida boa é ser capaz de carregar o que não cabe qualquer saber – e sem se angustiar, desesperar ou ficar ansioso com isso. É ter a capacidade de tomar os próprios enigmas – e sem a pretensão de decifrá-los. É aliar-se aos mistérios da vida – e sem temer ser devorado por eles.
A vida boa não é combater o incombatível. Viver bem é dar conta de tomar o que não nos foi dado o direito de querer saber as razões disso.
Evaristo Magalhães – Psicanalista