Quem quer sofrer? Ninguém. No entanto, há perdas definitivas – porque não podem ser substituídas. Não há palavras que as toque, medicamento que as dope, movimento que as disfarce, reação que as suplante ou oração que as exorcize. Sofrer – também – não resolve.
Desse modo, cabe-nos perguntar: e se retirássemos a dor dessas perdas, o que sobraria? Nada.
A questão é que sobre tais perdas, não sabemos resolver de outro modo, senão com dor. No entanto, o caminho pelo doer – também – não é o melhor. O melhor antídoto para as nossas melancolias, é nos esvaziarmos de qualquer sentir. Precisamos aprender a exercitar o sentido do nada diante do que nada cabe. Precisamos aprender a tratar o que não tem nenhuma explicação com nenhuma explicação. Não podemos tratar com dor essa coisa da nossa mais absoluta impotência. Não podemos tratar com dor isso que nem a dor mesmo resolve. Qualquer dor nunca pode ter merecimento. Se não há nada depois da dor, não temos outra alternativa, senão, ficar com o nada mesmo. Precisamos ver algum sentido positivo no uso contemplativo do vazio. Precisamos aprender a não enlouquecer, a não surtar, a não deprimir, enfim, a não colocar a nossa própria saúde mental em risco diante disso que nada podemos.
Evaristo Magalhães – Psicanalista