A obesidade é uma solução pela repetição. Ela é o oposto da palavra que é múltipla e infinita.
Não há saída melhor que tentar resolver pela fala. A palavra não engorda, não vicia e não intoxica. A palavra diversifica, desliza, desloca, condensa, acrescenta, clareia, convoca e aproxima.
Ingerir resolve – apenas temporariamente – porque a comida digere – e a fome volta. O medicamento tem prazo de efeito. A droga tem curta duração.
Em se tratando de obesidade extrema, comida é sinônimo de morte.
A palavra não mata. Pensar sobre si não tem efeito colateral. Não importa a forma de pensar. Pode ser um discurso, um blá-blá-blá, um delírio, uma alucinação ou um balbucio.
Pensar não envenena, é gratuito, enriquece a alma e estabiliza as emoções. Pensamos para adquirir domínio sobre nós mesmos. Caso contrário, enlouquecemos.
Podemos resolver – também – para além da palavra. Podemos agir, viajar, ir ao cinema, ouvir música, dançar, namorar, caminhar e amar.
Nenhuma compulsão faz sentido. Não faz sentido qualquer comportamento autodestrutivo.
Só a palavra faz sentido. Se a palavra parecer não ter nenhum sentido – ainda assim é melhor delirar do que atacar a geladeira.
Precisamos escutar mais o que o outro tem pra dizer: não importa o que ele diga. Enquanto se diz não se faz.
Perdemos o controle quando nos perdemos de significar nossas próprias emoções.
Evaristo Magalhães – Psicanalista