Nosso problema é que falamos. É porque falamos que faltamos – porque não existe palavra final.
A palavra não tem o poder de eliminar a verdade.
Não procuramos o amor. Procuramos pelo amor que conceituamos. Nunca o encontraremos!
Há um desacordo intransponível entre o que pensamos e o mundo real.
A criança – porque não pensa – não sofre.
Sofremos porque queremos adequar o mundo ao que pensamos. Deprimimos porque buscamos aproximar a vida que temos da vida que idealizamos. E quando isso não acontece desembestamos a pensar novamente e caímos sempre no mesmo dilema entre racionalizar e sofrer.
Não haveria sofrimento se não fôssemos – racionalmente – tão assépticos.
A dor é constitutiva da palavra. Não existe a palavra juventude sem a palavra velhice.
A felicidade é infantil. A felicidade é com menos EU. Qual é o caminho? Dar conta de pensar a vida sem negar o seu oposto. No entanto, somos muito cartesianos. Queremos impor exatidão em tudo.
Nós ocidentais não fomos acostumados a ver a vida como ela é. Não aprendemos a experiência de amar sem julgar. Perdemos a alegria inocente da infância.
Pensamos para perder. Pensamos para entrar em pânico. Queremos a eternidade mesmo incertos dela. Contudo, não desistimos!
Não deveria ser assim. Não se trata de ter ou não-ter. Trata-se de ter e não-ter. Trata-se de apenas viver quase como uma criança quando vive tudo – e sem nada diferenciar.
Evaristo Magalhães – Psicanalista