Temos questões que ninguém pode resolver por nós. É – exatamente – nesse ponto que temos que deixar de ser o outro para sermos nós mesmos.
Não existe ciência, filosofia ou religião para tais questões. Esses enigmas são de cada um. Esses mistérios desafiam a nossa capacidade de tapear o que temos de mais perturbador em nosso existir.
É por isso que não podemos prescindir da nossa liberdade. Qualquer coisa que inventamos nos dá a sensação que não estamos sendo devorados pelo nada.
Quanto menor nossa autonomia, maior a nossa sensação de vazio. Quanto maior a limitação da nossa capacidade de criar, mais deprimidos e frustrados ficamos.
O mundo deveria nos possibilitar a sensação de que estamos vivos. Quanto mais o trabalho disciplina nosso cotidiano, mais infelizes e adoecidos ficamos.
Ou criamos e existimos ou adoecemos entregues ao nada. Algo tem que fazer sentido. É inútil fazer quando não é por prazer.
O sentido de um pode não ser o sentido da maioria – especialmente quando a singularidade de alguns é posta de fora da produção desse sentido.
Ninguém trabalha satisfeito só por um salário – especialmente quando esse salário só serve para garantir a sobrevivência e não possibilita outros prazeres que aliviariam as nossas dores existenciais.
Disciplinar o cotidiano e impedir o outro de sua individualidade é o mesmo que imprimir nele o que ele tenta tapear: suas angústias.
Ninguém deveria decidir por ninguém. Qualquer pessoa só consegue se sentir viva quando se enxerga no que está desenvolvendo.
Fora isto, é só frustração, angústia e dor!
Evaristo Magalhães – Psicanalista