Não estamos seguros de nenhum amor. É sempre possível que quem amamos encontre amores ainda mais amáveis que o nosso. Ou seja, temos que dar conta de amar o amor e de amar o medo de perder o amor.
O que fazer para que esse medo não interfira em nossos amores? Não existe solução para o conflito entre amor e desamor. Temos que ceder ao desamor na mesma medida em que cedemos ao amor. Temos que fazer do desamor uma possibilidade tão real tanto quanto a possibilidade do amor.
No entanto, temos que ceder ao desamor sem que isso se torne insuportável para o amor que temos.
Do mesmo modo, não podemos ceder ao amor negando toda e qualquer possibilidade do desamor.
Não existe amor separado de desamor. Temos que nos permitir ao desamor até o ponto em que isto não configure uma insegurança crônica. É o mesmo que manter a crença na possibilidade da perda – de tal modo que ela não configure surpresa caso venha a acontecer.
Entre amor e desamor ninguém consegue dizer o que é mais verdadeiro.
O amor é o que mais queremos. Contudo, não podemos usar o amor para camuflar o desamor. O amor fica exatamente entre a sua realização e o seu fracasso. Que ele permaneça nesse lugar, porém, sem nos configurar um incômodo significativo.
Evaristo Magalhães – Psicanalista