Dói muito perder. No entanto, não deveríamos pensar no que perdemos. Deveríamos focar na dor da perda. Essa dor não é do que perdemos: não nos vitimezemos.
Essa dor é nossa. A perda só a atualiza em nós.
Não é do que perdemos que temos que nos livrar. Não é com a falta que temos que aprender a lidar. Temos que ir de encontro ao que é nosso dessa falta.
O fato é que estaríamos faltosos ainda que nada tivesse partido. Ninguém se livra da falta.
Não há presença suficiente para os enigmas da existência. Nada a supre. Não tem cura. Temos essa falta. Nada a cessa. Nenhum amor a ameniza. Nada a toca.
Não é o fato da ausência que nos faz faltosos. Não existe um culpado.
A questão não é ter ou não ter. A questão é o que fazer. Não é o outro que fará por nós – mesmo porque ele pode estar esperando que façamos por ele. Não dá para atribuir ao outro o que não é dele.
Amar o que não temos: esse é grande desafio. Fazer do que nos falta uma alegria. Dar leveza ao que não temos – essa é a nossa única alternativa.
É masoquismo? Talvez. Mas um masoquismo melhor que aquele da decepção de uma completude impossível. Melhor que aquele que dos amores fracassados pela nossa ânsia de ter tudo.
Quem dera se a plenitude fosse possível: seriamos eternamente felizes. Isso é possível? Talvez sim. No dia em que carregarmos – com alegria – o que nos é inevitável.
Evaristo Magalhães – Psicanalista