Na verdade, não sou. Na verdade, tenho-me.
Não sou quando digo quem sou. Esse meu eu é feito de palavras. E as palavras não são as coisas.
Portanto, não sou quando falo de mim – tanto que quase nada funciona como eu gostaria.
Desse modo, o que sou é o que não funciona – e que não me cessa de aparecer como nada.
Nunca estou seguro do amor. Nunca estou pleno de mim. Não consigo prever o que pode acontecer.
O que sou é isso que me é incompleto, que nunca venço, que não controlo, que não para de repetir, que nenhuma cirurgia plástica resolve e que nenhum cientista – até hoje – conseguiu explicar.
O que sou não me salva. Não adianta eu querer lutar contra.
Preciso aprender a lidar com o que sou. Como? Não sendo: tendo-me. Essa é a minha verdade.
Preciso aprender a me ter nisso que não sou. Preciso aprender a olhar para isso com menos de desespero.
Quem sabe assim eu consigo tornar mais leve esse peso que carrego comigo?!
Evaristo Magalhães – Psicanalista