Não sonhe. Não enfeite. Não se iluda: não vai resolver. A verdade da vida não cessa de se escrever. Temos que gostar – também – do que tanto negamos.
Só concebemos a alegria como negação da tristeza. Inicialmente, por rituais. Depois, por pensamentos. Agora, pela tecnologia.
Viramos amantes da ilusão de uma vida que não existe.
No entanto, o que não suportamos não cessa de aparecer. Negamos tanto a dor que parece que desejamos sofrer.
Nenhum amor pode acontecer como solução para o desamor.
A filosofia – nesse sentido – nos fez muito mal com sua pretensão a um lado só, a ciência com sua ilusão de controle e a religião com suas promessas paradisíacas.
Não existe estrutura pronta. Viver é pura contingência. Amar é – também – amar o equívoco.
Temos que dar conta de enlaçar a felicidade com seu oposto.
Não podemos hierarquizar amar e perder. Temos que nos sucumbir ao que tanto evitamos – e sem qualquer temor.
Não existe o antes ou depois, melhor ou pior, alegre ou triste, bonito ou feio.
O futuro será a capacidade de lidar bem com o contraditório.
Evaristo Magalhães – Psicanalista