Sou onde não penso. Onde a palavra não chega. Sou literal. Sou sem memória. Estou no intervalo entre as letras.
Sou a rasura. Sou o que cerze.
Sou diferente de tudo . Sou onde me privo de ser. Sou o que nunca contei. Sou o que nunca repito.
Jamais encontrarei a primeira vez de mim.
Sou o não dito. Sou o escrito porque não me apago. Sou marcas em estado de ruína. Sou a outra metade que não sei. Sou o meio de um dizer. Sou um dizer que não se diz.
Sou uma imagem morta. Sou uma representação esquecida. Sou um isso. Sou a diferença. Sou o deslocado e o abolido.
Só compareço em ato. Lanço-me ao desconhecido. Não sou: tenho-me.
Evaristo Magalhães – Psicanalista