Sabe onde me descubro quem sou? Onde não sou. Que lugar é esse? É onde me tomo como desespero: meu vazio, minha solidão e minha angústia. É onde não tem palavra.
A palavra não sou eu. A palavra me foi inventada. As regras me foram impostas. Não posso dizer como quero. Não posso gozar como gosto. Não posso fazer como desejo.
Contudo, minha solidão me toma, me persegue e me perturba. Meu existir não me desasossega.
Minha angústia sou eu querendo me explodir em minha própria gramática. É aí que eu tenho existir. Essa é a minha casa. É nessa dor que me defino. Permanecerei dolorido de mim enquanto não me for nela. É preciso sair algo coisa de mim daí. Só assim não viverei mais atacado de minhas verdades.
Não é o outro que me dói. Sou vítima do meu não me permitir ser.
Posso me enfrentar mas fujo de mim. Posso me ser e me temo. Me envergonho da parte de mim que eu poderia negociar com o mundo.
Não me permito existir até quando eu poderia.
Levo o outro comigo até onde não existe a menor possibilidade dele estar lá.
Sou um capacho das palavras que me fizeram. Prefiro me doer a me gozar. Quando é que vou me arranjar comigo? Quanto mais demoro, mais me perco de mim.
Evaristo Magalhães – Psicanalista