Há quem permaneça vinculado à dor de uma ausência. A dor perda é o gozo – ao contrário – do que estaríamos sentido se ainda estivéssemos com quem partiu.
A perda é o amor que ficou na forma de dor. A saudade não deixa de ser uma forma prazer por alguém que se despediu.
Quando o outro está presente gozamos de infinitas formas. Quando o outro falta, só conseguimos gozar da angústia que ele nos faz.
Somos muito criativos na presença – e quase nada criativos na ausência. Sabemos amar só quando temos. Precisamos aprender amar a ausência.
Não podemos resolver com a dor. Não podemos camuflar com a angústia. Em algum momento não teremos nem a nós mesmos como gostaríamos – e não poderemos surtar.
O corpo jovem significa prazer e significa – também – que algum momento ele perderá todo o seu vigor. A imagem jubilada no espelho precisa incluir – com alegria – a mesma imagem que está em processo disforme. Perder precisa ter a mesma vivacidade da alegria de possuir.
A saudade é uma vontade masoquista de trazer de volta o que já não é.
Quanto ao que temos já sabemos – muito bem – o que fazer. Falta-nos coragem para enfrentar o que nos falta ou nos faltará. Nunca é demais repetir que viver é – também – perder.
Evaristo Magalhães – Psicanalista