Não é muito louco você pensar que um corpo que sofre é um corpo que goza?
Não desgrudamos do nosso corpo. Se sofremos, sofremos com ele. Se alegramos, alegramos com ele.
Nosso corpo nunca sai de nós – seja para o bem ou para o mal.
No entanto, um corpo nunca deveria ser para sofrer: nós é que assim o fazemos.
Freud não entendeu que suas histéricas só queriam gozar com suas paralisias. Ele deveria ter permitido é que elas gozassem com suas verdades. Ele as matou fazendo-as falar ao invés de fazê-las gozar.
Continuamos sem entender que as pessoas só querem gozar. Ainda queremos empanturrar o gozo de todo mundo com palavras – exatamente – para que elas não gozem com seus corpos.
Quando é que vamos nos calar e deixar que nossos corpos tenham orgasmos múltiplos? Quando é que vamos grudar nossos ouvidos em nossos corpos – e sem meandros?
Por que nos tememos tanto?
Quem não pode gozar com suas verdades acaba gozando com suas mentiras.
A fibromialgia é o corpo ignorando suas fantasias. A psoríase é o corpo acovardado em seus desejos.
Qual é o gozo do corpo? É o que ele tem de mais vivo. Ninguém é mais singular que quando está gozando consigo.
O gozo do corpo não cabe em palavras. Criamos para nós outra morte quando negamos o que de melhor temos.
É assustador como vamos desfalecendo nossos corpos em troca de uma inócua sedução intelectual.
Somos mórbidos com nossos corpos em troca de vivificarmos nosso espírito.
Falamos bonito, porém, com o corpo todo largado, frio, torto e deformado. Aos poucos vamos deixando nosso vigor adolescente para trás em troca de um blá-blá-blá vazio.
Temos que reaprender a explorar o que temos de mais nosso. Há um infinito de coisas que podemos viver para além do nosso mental – sem medo e sem culpa.
Troque a dor de pensar sobre seu corpo pelo gozo do seu corpo. Basta você usar o que você tem de mais seu. Vá direto ao ponto – com a condição de que você goze tudo o que você puder. Não é crime. Não é pecado. Não é doença.
Evaristo Magalhães – Psicanalista