Não conduzimos bem as situações quando agimos por impulso. Temos algum conhecimento do que viver tem vários lados. Não deveríamos sofrer. No entanto, sofremos porque confundimos fantasia com realidade.
Sabemos o quanto somos vulneráveis. Negamos nossas fraquezas quando vidramos em uma vida paradisíaca. Entramos em pânico, quase sempre, não pelos problemas em si, mas porque nunca trabalhamos com a possibilidade de ter que lidar com eles.
Nossa cultura é muito fantasiosa. Nossos cientistas e religiosos não nos permitem um confronto com o real vida. Nosso excesso de racionalidade vai na contramão das nossas sentimentalidades. Nossa mente quase nada tem a ver com o que se passa com nossas verdades.
Criamos um mundo irreal e paralelo ao que temos como factual. Não deveríamos receber nada com surpresa. Muita empolgação é reveladora do quanto não estamos preparados para viver o contraditório.
Tudo deveria ser vivenciado com serenidade – sem qualquer julgamento. Muita felicidade – também – é sintoma do quanto hierarquizamos as coisas da vida. Muita alegria sempre termina em ressaca. Muita tristeza mostra nossa desilusão com uma vida plena que nunca existiu.
Somos extremistas, bipolares e desequilibrados. O mal não deveria ser visto como o oposto do bem. Não estou defendendo qualquer condescendência para com a maldade. Quero apenas dizer que o fato de não sabermos lidar com a dor só dificulta quando fantasiamos uma vida pura e perfeita.
Deletamos os opostos. Execramos o trágico. É seguro que pagaremos um preço alto por esta nossa escolha. A vida – em si – não é problemática. Sobre as certezas da vida, sabemos muito bem. No entanto, nos acovardamos. Viver a realidade não deveria ser um problema. Não entendo porque insistimos tanto em torná-la um problema.
Evaristo Magalhães – Psicanalista