Ninguém sente frio na barriga igual. A emoção é de cada um. Toda emoção é completa. Temos tudo para emocionarmos o tempo todo – se quisermos. Somos o que nos faz tremer. Contudo, estamos mais preocupados com o sentido de viver que com o viver. Deixamos de lado o que – de fato – vale viver. Valemos mais pelas teorias que inventamos, pelos gráficos e tabelas que interpretamos. Valemos mais pela capacidade que temos de resolver problemas que não acabam nunca. Importa apenas saber qual a área de atuação mais rentável do momento. Impossível saber. Por que? Porque mundo gira – e muda o tempo todo. Trocamos a estabilidade do emocionar pela instabilidade do nunca satisfeito. Desse modo, reduzimos nosso viver ao infinito. Viramos seres à procura. Viramos compulsivos por atualização. Fomos colocados em um fosso do que nunca vem. Temos que saber do que ainda não foi. Temos que nos adiantar ao diante do diante. Trocamos o prazer pelo desespero. Trocamos o gozo pela fissura. Trocamos a alegria de viver pelo medo de não ter. O mercado consumiu nosso viver. Não temos mais tempo para tremer as pernas. Não sabemos mais – apenas – saborear. Não enchemos mais os olhos. Não apenas somos. Estamos sempre querendo ser. Contaminamos nossas emoções com nossas preocupações. Trocamos o certo pelo duvidoso. Não tem preço uma taquicardia de emoção. Nada é comparável a um respirar profundo diante da beleza. Viramos seres sem respostas. Trocamos o UM da emoção pelo indefinido. Trocamos o olhar sereno pela ansiedade eletrizante. Escolhemos um caminho sem fim. Estamos melancólicos porque temos sempre que recomeçar do zero. Vivemos de calcular os riscos e de planejar estratégias. Não temos mais tempo para o prazer. Não olhamos nos olhos. Perdemos o hábito da contemplação. As pessoas embruteceram. A natureza se tornou um meio. O fim deveria ser gozar da vida é e não do que ela ainda será. O fim não deveria ser a sensação de prazer sempre postergado. Esquecemos do que temos e somos. Viramos seres em busca do nunca.
Evaristo Magalhães – Psicanalista