Perdemos o senso de distanciamento. Não julgamos. Não criticamos. Não condenamos. Banalizamos tudo. Nada nos angustia. Nada nos envergonha. Nada é condenável. Tudo é permitido.
Estamos em um tempo impermeável ao incômodo. Perdemos a capacidade de diferenciar o certo do errado, o bom do ruim e o bem do mal. Parece que estamos cem por cento seguros para agir mal. As tragédias não são mais assim tão trágicas. A dor do outro não fica mais na memória – nem quando ele morre.
Fico procurando algum ponto de incômodo no brasileiro, neste momento. Não existe mais o isso e o aquilo. Não temos dois ou mais lados. Tudo é igual – para o mal. Não há reações distintas.
Adotamos a postura de só fazer cara de paisagem. Parece que perdemos a nossa humanidade ou atingimos o estágio do saber viver pelo pior.
Por que banalizamos tudo? Parece que – finalmente – aprendemos a diferenciar o bem do mal e optamos pelo segundo. Adotamos a postura do não há nada que possa ser feito. Anestesiamos a dor pela dor. Aprendemos a neutralizar – cinicamente – nossos problemas. Levamos o politicamente incorreto às últimas consequências. Não queremos mais descobrir um jeito de resolver para o que julgamos como sendo insolúvel. A solução está dada – pelo pior.
Qualquer dano é o menor dano. Ou descobrimos a fórmula perfeita de viver mal sem ser afetado por nada ou estamos completamente melancólicos – e não sabemos.
Evaristo Magalhães – Psicanalista