Do que não sei – imagino. O que imagino para mim? Quais são meus sonhos? Quais as minhas ilusões? O que sei? O que sei sobre mim? Qual a minha teoria sobre a vida? O que sei sobre o mundo?
Preciso urgentemente limpar minha imaginação. Não devo pensar pelos outros. Devo deixar de lado esse EU que não sou. Não sou o que imaginaram e pensaram por mim.
O que sou é o que me permito imaginar e pensar. Quando posso ser EU? Quando eu me permitir verificar o quanto minhas ilusões são inócuas. Quando eu me permitir realizar a experiência de tornar o que fizeram de mim como inteiramente inconsistente. Quando eu conseguir criar algo totalmente resistente ao pensar e ao imaginar que me foram impostos.
Nenhum EU é uniforme. Não somos um objeto natural, constante e regular. Somos invenção. Somos significantes flutuantes. Esse lugar do imaginar e do pensar deveria se tornar um lugar vazio e não ocupável – hegemonicamente – por nenhuma posição.
A sociedade não deveria existir em mim. O espaço político deveria me ser ocupado pela contingência e não pela exclusão ou pela eliminação das posições que denunciam as suas falhas.
Somos usualmente condicionados a nos fixarmos em determinados modos de gozo. Viramos presas fáceis para certos circuitos de gozo. Somos o tempo todo identificados a posições ou alienados a lugares.
Preciso começar a existir para além desses circuitos, identidades, posições e lugares. Preciso começar a existir depois da sociedade e da cultura. Preciso ser EU – de fato.
Evaristo Magalhães – Psicanalista