O ninfomaniaco vê sexo em tudo. Ele avalia as pessoas pelo que elas podem lhe oferecer de sexual.
Ele quer alguém que seja tudo para a sua ninfomania. Na ausência do completo, ele sexualiza as partes. Ele pode sexualizar o sorriso de um. Pode se excitar com a voz do outro. Pode enlouquecer com os braços, pernas e bunda daquele. Enfim, qualquer pessoa só lhe tem importância quando o excita de algum modo.
Ele não só olha. Ele olha selecionando aqueles que podem lhe satisfazer sexualmente. Seu olhar é o tempo todo ansioso – como se estivesse querendo encontrar algo – sexualmente- muito valioso.
Ele fixa apenas em quem lhe toca em seu desejo. Passa o tempo todo pensando no que faria – na cama – com quem acabou de ver.
Ele não apenas vai ao dentista. Ele aproveita o tratamento dentário para se excitar com os dotes físicos do profissional. Ele não vê o filme. Ele vê o ator. Ele compra o filme só para rever a mesma cena de sexo do filme. Ele usa o restaurante para devorar os frequentadores. Ele torce para que alguém desejável assente ao seu lado no avião.
Para ele, a beleza do mar e a temperatura do sol é o que menos lhe importa em um dia de praia cheia. Ele é capaz de comprar várias vezes em um mesmo lugar apenas para se deliciar com os dotes sexuais do funcionário. Seu cabelereiro tem que ser um bom profissional – e tem que ser alguém que lhe tesa.
Não importa Paris. Importa apenas os parisienses. Seu foco não são os amigos que o acompanham na mesa. Ele busca os que estão chegando ou transitando pelo bar.
Sua atenção pulsa sexo. Não importa se a pessoa está ou não lhe correspondendo. Ele se excita apenas vendo – ainda que de longe.
Ele é desconcentrado de tudo – menos de sexo. Tudo para ele é sexo. Em tempos de degradação cultural – cada um sobrevive do que dá conta.
Evaristo Magalhães – Psicanalista