Qual a medida do meu afeto? Sei amar? Sei do meu desejo? Sofremos porque não temos a medida dos sentimentos. Amor demais não é amor, porque o amor não suporta ser sufocado por muito tempo. Amor de menos também não é amor, porque o outro precisa se sentir seguro de alguma maneira. Amor e dor são sentimentos próximos. Há amor e dor em tudo. Ninguém tem a medida. Até os matemáticos erram. Não sabemos explicar o infinito. Não prevemos o futuro. Inicialmente Freud acreditava que a palavra poderia exorcizar a dor. Ledo engano! As palavras não são as coisas. É tudo um blá blá blá sem fim. Não sabemos o que fazer com o que não faz sentido. O que fazer com o que sobra? O que fazer com o silêncio? O que fazer quando não é possível dizer mais nada? O que fazer com o medo? Não há uma medida. Nada é definitivo. Amamos sem certeza. A perda nos ronda. Temos mais dúvidas que verdades. Pressentimos a dor. Por que não suportamos as perdas? Porque ficamos indignados quando erramos? Dividimos a vida em dois lados: o bom e o ruim, o feio e o bonito, o claro e o escuro, o velho e o novo, o prazer e a dor … Usufruímos dos nossos prazeres e patologizamos nossas angústias. Criamos sentimentos negativos para a solidão. Certas palavras nos dão pânico. É possível experimentar o estranho sem desesperar? É possível olhar o ruim, o feio, o escuro, o velho e a dor sem se espantar tanto? Não há palavras para tudo. O ruim existe. O feio nos surpreende. Temos pânico do escuro. Envelheceremos e os amores acabarão. Não sabemos explicar tudo. Desembestamos a sofrer quando não estendemos os motivos. É possível algo diferente? É o que o divã nos oferece: algo para além das palavras e da dor.
Evaristo Magalhães – Psicanalista
É possivel não dizer nada? é possivel o silêncio?
É um vai e vem de perguntas sem respostas, um texto que entra pelas costa e deixa mergulhar no infimo de si.
É dor e amor.
Parabéns pelo texto querido Evaristo.