Gosto de jazz porque musicalmente é a melhor expressão dos meus dramas.
O jazz mostra a vida como ela é: inconstante, irregular, contingente e contraditória. O jazz expressa a existência em toda a sua tragicidade.
A vida não é um ir e vir repetitivo. Vive é experimentar notas dissonantes e sons improváveis.
A vida não se reduz a três ou quatro notas. A vida sobe, desce, sai, entra e vai de um lado para o outro. A vida pode virar do avesso. A vida é harmonia e descompasso.
O jazz reflete o existir em toda a sua improbabilidade.
A vida näo é composta de harmonias óbvias. Nunca saberemos quando e como tudo vai acabar.
A vida é surpresa porque quebra e recomeça. A vida quase nunca volta aos refrões. A vida não bate estaca, não tem melodia rígida e não funciona com sequência óbvia. Na vida, as notas quase nunca repetem. A vida não faz côro. A vida não copia.
Estamos na vida para desafiar a mesmice – e compondo melodias únicas.
O jazz parece meio sem sentido – como a vida. Nele, nada é definitivo porque tudo está em aberto.
No jazz não há barreiras. O jazz é pura liberdade. O jazz é pura imprevisibilidade.
Nunca saberemos a nota seguinte da vida. Impossível prever qualquer trajetória. Tudo pode acontecer. Tudo pode subir, descer, parar, quebrar e recomeçar.
O jazz é a harmonia dentro do enigma. O jazz leva ao delírio – e sem delirar.
É genial ver os músicos se desafiando.
Não sabemos sobre o amanhã. Precisamos nos recriar – sempre. O jazz nos inspira a refletir sobre o sentido da vida.
Quem dera se, como no jazz, pudéssemos ir reinventando tudo – e sem desafinar!!!
Evaristo Magalhães – Psicanalista