Muito cuidado com o que você vê e ouve. O olho é uma lente e o ouvido uma caixa de ressonância das nossas carências afetivas. Nossa visão e audição exalam nossos sentimentos mais íntimos. Só enxergamos e escutamos o que supre a nossa falta. Na ausência de amor corremos o risco de passar a vida toda tentando encontrar o grande amor perdido. Nosso problema não está na realidade. A questão é a forma como a interpretamos. Nosso desejo alucina. Sofremos quando não somos correspondidos e não podemos culpar ninguém por isso. Nós é que inventamos nossos amores. Mergulhamos o outro em nossas fantasias. Interpretamos mal um sorriso. Confundimos um abraço. Exageramos sobre um olhar atento. Confundimos gentileza com paixão. Ficamos inquietos sob nossas carências. A falta nos deixa vorazes. Perdemos o controle. Nossa visão fica frenética. Confundimos carinho com amor. Sofremos quando nossas carências perdem a noção da realidade. Queremos tudo de acordo com o princípio da nossa ilusão. Sobrepomos nossos sentimentos à realidade. Ainda bem que sempre tem alguém para nos dizer que confundimos as coisas. Aí só resta viver a ressaca moral e torcer para não repetir tudo de novo.
Evaristo Magalhães – Psicanalista