O dito popular “o diabo sabe muito bem para quem aparece” é uma boa tradução para o que acontece com quem está sobre um divã.
Desejar não é uma via de mão única. Podemos desejar tanto o prazer quanto a dor.
Não é por acaso que sofremos. É óbvio que sofrer remete às pulsões inconscientes. Nenhuma consciência admite gostar de sofrer.
Há aqueles que fazem meia culpa colocando-se como vítimas das mazelas da vida: gritam, esperneiam e xingam, sem nunca assumirem o componente libidinoso desses seus atos.
É o desejo pela canalhice que move o canalha. O possessivo morre de medo da traição ou do desejo de ser traído? Curiosamente, ele sempre termina traído.
Freud inventou a clínica para escutar o sombrio. Ele dizia que a verdade não está onde somos – mas – onde não somos.
Falta-nos coragem para enfrentar o que não somos como o único lugar de onde nunca deveríamos ter saído.
Evaristo Magalhães – Psicanalista