Amigo a gente escolhe. Família não. O amor de família é mais profundo que o amor dos amigos. É tão profundo que a família acha que pode interferir em tudo de seus familiares.
A família é a mais passional de todas as convivências. A família é de um amor tão incondicional que acha que pode fazer o quiser com seus familiares porque sempre será perdoada.
Em tempos de individualismo e de redes sociais, a tendência é que as relações familiares fiquem mais diluídas. Até bem pouco tempo era inadimissível colocar um familar em uma casa de repouso ou sob a proteção de um cuidador. Hoje isto é quase uma regra.
A amizade é mais racional. Os amigos aparecem no meio da nossa história. É por isso que o amigo tem mais afeto e a relação é menos invasiva.
Amigo tem limite. Quando amigo parece irmão é porque a base amorosa familiar não foi bem resolvida.
Irmão é capaz de dar a vida pela família do mesmo que acha que pode ficar sem pagar uma dívida contraída de um familiar. Esse é o amor famíliar.
Penso que a família foi criada para perpetuar esse amor de extremos – que pode ser compreendido como o mais generoso de todos os amores.
Na família, do mesmo modo que se dá a vida se dá o ciúme, o ódio, a vingança e a intriga. Na família, todos os sentimentos são vivenciados do modo mais desnudo possível. Nela quase tudo pode.
No limite, o amor familiar é que sobrevive. Acabar com família é a condenação do humano ao seu mais absoluto desamparo. .
Autor: Evaristo Magalhães – Filósofo e Psicanalista