A moral pode não andar no mesmo compasso da aparência. A polidez pode ser apenas um artifício: desconfie dos artifícios. A beleza pode ser só um enfeite: duvide dos enfeites.
Muito cuidado com os tipos que se apresentam bonitinhos demais. Um canalha é sempre exagerado na equipagem de si. Cuidado com a arrogância dos intelectualoides. Um canalha pode fingir uma inteligência.
Não seria melhor que fosse assumidamente mal? Um bruto a gente perdoa pela falta de cultura. Um desequilíbrado a gente considera pelos traumas de infância.
Não obstante, ninguém perdoaria um intelectual escroto.
O grosseirão a gente fica em dúvida se ele é mau ou mal educado. No entanto, ninguém desculpa um monstro civilizado. Ninguém perdoa um torturador seleto.
E o sangue que se vê nas luvas brancas? E o horror cortês? E a parcialidade por detrás das togas? Não seriam ainda mais culpados por serem polidos?
O que você prefere? Um grosseirão generoso ou um egoísta polido?
A melhor polidez é a que vem de dentro. A polidez verdadeira é livre das aparências e dos interesses. A polidez segura é toda em boas intenções.
A polidez segura vem da alma. É um saber viver de si para consigo e para o outro. É uma etiqueta da vida íntima. É um código de deveres. É um cerimonial do essencial.
Polidez e amor. Polidez e respeito. Polidez e honestidade. O ideal seria unificar aparência e sentimento.
Falta ao mundo profundidade. Sobra ao mundo superficialidade!
Evaristo Magalhães – Psicanalista